E ele acorda, com a cara na vala
Com o gosto do sangue e do barro
E a dor dos seus dentes quebrados
Tentando lembrar do que tinha rolado
De todo seu corpo gelado
Da corda com o nó apertado
Tentando ficar acordado depois de ter sido espancado
E ele levanta assustado
Procurando por todos os lados
E lembra do plano dos “nóia” que o sequestraram
E corre desesperado
Quando escuta o grito abafado
E vão estuprar sua mulher, fatiar e jogar no primeiro buraco
Não tem mais forças pra levantar
Suas preces ficaram ao chão
Sem mais forças para gritar
Mais um corpo estirado no chão
Nem era pra estar nessa estrada, mas homem que é homem tem que ver de perto
Olhar o corpo de filho na chapa de ferro dentro do necrotério
Amoroso, educado, inteligente e esforçado
Foi quando roubaram o seu carro e os deixaram jogados de lado
Poderia ser o seu filho
Poderia ser sua mulher
O que mais vai rolar nesse história?
Será que ele termina de pé?
E ele vê o seu carro, num barranco capotado
A mulher presa nos ferros e os "nóia" só com uns machucados
Não tem mais forças pra levantar
Suas preces ficaram ao chão
Sem mais forças para gritar
Mais um corpo estirado no chão!
O que você faria se alguém destruísse sua vida em um dia?
O que você faria? Você vingaria?
Se você tivesse a chance de vingar suas perdas? Me diga!
O que você faria? Você se vingaria?
Cadê seu Deus?
Cadê seu Deus?
Cadê seu Deus?
Cadê seu Deus?
Se joga no meio do barro esperando uma luz pra poder te guiar
E ver o brilho da arma no chão quando a chuva chegou pra lavar
E com a arma já carregada apontada na cara dos canalhas
Não sabe se abaixe a arma ou manda pra conta do Papa
A sirene toca, os "homi" chega e ele só fica assistindo
E vai viver com a tristeza mas nunca como assassino
No rosto a cicatriz da bala, no olho o brilho da lágrima
No peito a saudade que nunca acaba
Nada será como antes, até um próximo instante